IFá é um Sistema de Advinhação Sagrada originário da cultura africana Iorubá.
Este sistema de Advinhação Sagrada é parte integrante da religião naturalista que nos foi legada pelos
descendentes dos Iorubás escravizados no Brasil e que, com o passar de mais de um século, miscigenou-se
com anteriores conhecimentos espirituais Bantos e Angolenses, vindo a constituir-se em um dos Três Pilares
Místicos sobre os quais ergueu-se a Umbanda do Brasil, à ela legando, dentre outros, dois elementos
principais : o conceito dos Orixás e o Jogo dos Búzios.
Mais tardiamente, quando passadas as fases da escravização e colonizacão, os estudiosos do esoterismo
das religiões africanas reformuladas no Brasil deram-se conta de que, subjacente às graciosas e/ou
confusas lendas dos escravos africanos, existiam uma Teogonia, uma Mística e uma Liturgia de grande
alcance espiritual, cultural e social que haviam sustentado a fé dos descendentes daqueles povos,
mesmo na tragédia da escravidão.
Consciente desta verdade, Léo Frobenius (1913), erudito pesquisador e etnógrafo ocidental, estudando a
religião dos Iorubás, principalmente à época em que a mesma ainda não havia assimilado conceitos religiosos
alienígenas de origens islâmicas e cristãs, disse com propriedade :
"A religião dos Iorubás encontrava-se num estágio requintado de evolução, podendo medir-se pela religião
grega, quer pelo número de episódios, quer pela riqueza de personagens, quer pela profundidade das instituições.
"
Nesse sistema religioso, a autoridade máxima e central pertencia aos Babalawo, denominação derivada de
Baba (pai) + Li (tem) + Awo (segredo), ou seja, o pai que tem o segredo e que, no Brasil, ficaram
conhecidos por Babalaô e, por vezes, simplesmente por Pai ou, ainda, Pai-de-Santo.
E qual era o "segredo" desses "Pais", ou melhor, com que conhecimentos místicos estavam investidos ?
William Bascon (1969), etnólogo e sociológo norte-americano, afirma que eles eram :
• "a autoridade religiosa que deve ter conhecimento acerca de todas as Divindades Iorubás e não meramente
daquela que ele pessoalmente reverencia, funcionando para a massa de fiéis e também para os outros
sacerdotes de divindades diferentes. Ele ajuda os fiéis a tratar com o amplo espectro de forças personificadas
ou impessoais em que os Iorubás acreditam e a consumar, através da Divinação Ifá, os destinos individuais que
lhes forem consignados por escolha própria desde o nascimento."
Entende-se assim a importância que a Advinhação Sagrada de Ifá teve para os descendentes de africanos
escravizados, a qual foi repassada para todas as religiões que aceitaram o conceito das múltiplas Entidades
Sobrenaturais de Origem Divina que, no Brasil, são conhecidas pelo título genérico de "ôrixá" : ela foi a
Guardiã de suas verdadeiras origens espirituais, culturais e sociais.
E é por causa de seus conhecimentos globais sobre os Orixás que os Babalaôs sempre tiveram e ainda têm uma
bela, firme e complexa visão própria da Existência, na qual o Mundo Sobrenatural está em estreita relação
com o Mundo Natural, considerados complementares entre si e que se fundem completa, harmônica e belamente
na Casa de Ifá, ou seja, a própria Natureza.
Assim, a Religião dos Orixás, além de viva e atuante, é também fruto da convivência mais que milenar de
nossos ancestrais africanos com a Natureza ou, melhor dizendo, talvez que o seu modo ver a Natureza fosse
fruto de sua atávica convivência com as suas Entidades Sobrenaturais.